MMXXII

O FUTURO DO TRABALHO

A edição mais recente do relatório The Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial, lista pontos que merecem ser vistos com muita atenção por aqueles que se preocupam – e quem não se preocuparia? – com o desenvolvimento econômico e social do País. A pandemia do novo coronavírus, que revela sua face mais trágica nos hospitais, causa danos imediatos consideráveis também no mercado de trabalho - e acelera de forma significativa transformações estruturais que vinham ocorrendo de maneira gradual.

Há pouco tempo, a expectativa era de que 65% das crianças que estavam iniciando a aprendizagem escolar iriam ocupar cargos que até então sequer existiam quando completassem o ensino médio ou a faculdade. Essa perspectiva não foi revista até o momento. Mas o levantamento do Fórum Econômico, feito a partir de impressões de líderes empresariais globais e de dados públicos e privados sobre o mercado de trabalho, diz que a pandemia trouxe “uma perspectiva de grande incerteza” e acelerou a chegada do futuro do trabalho.

O relatório mostra ainda que a atual crise pode exacerbar desigualdades, com impacto significativo sobre o trabalho dos indivíduos com menor escolaridade, e que haverá uma substituição significativa do trabalho humano na execução de tarefas repetitivas em um período bastante curto. Em cinco anos, a automação pode acabar com nada menos do que 85 milhões de empregos ao redor do globo.

Há motivos de sobra para preocupação. Mas o alerta sobre os impactos da pandemia é essencial e deve nos motivar a buscar soluções. Principalmente porque o mesmo relatório do Fórum Econômico indica que até 2025 devem surgir 97 milhões de vagas de trabalho mais adaptadas à nova divisão de tarefas entre humanos, máquinas e algoritmos. O saldo, portanto, pode ser positivo.

Agora, depois de longos quatro parágrafos, finalmente chegamos ao ponto. Diante de um cenário de transformações intensas no mercado de trabalho, essa constatação poderia ser gravada na pedra – ou transformada em peças produzidas em uma impressora 3D e distribuídas nas escolas, empresas e órgãos públicos.

A criatividade está em alta – e o exercício dessa capacidade humana tão presente entre os brasileiros será cada vez mais importante. Com as tarefas repetitivas executadas por máquinas, caberá às mulheres e aos homens a criação de novos produtos; de tecnologias inovadoras; de conteúdos para o lazer ou o aprendizado; da arte; da gastronomia; da moda e a análise de dados, situações e cenários para a tomada de decisões.

Mas precisamos estar preparados para ocupar esses novos espaços. A criatividade não se basta ou esgota em si mesma. Ela precisa ser exercitada dia a dia e direcionada a um propósito. Não se trata, obviamente, de reduzir esse talento quase divino – o de criar algo novo a partir de ideias – a uma atividade meramente utilitarista.

A criatividade exige sonho, ousadia e alguma inadequação ao mundo “estabelecido” – sem isso é impossível identificar a necessidade de mudança. Mas o processo criativo exige também conhecimento, disciplina e algum suor. Não são poucos os gênios da literatura ou das artes plásticas que relatam a dura rotina de produzir e ajustar e analisar e refazer seus trabalhos em busca daquilo que consideram o ideal. Também há um longo processo técnico envolvido na metamorfose de uma ideia em um produto acabado.

O Brasil precisa concentrar esforços e acelerar se não quiser perder o bonde – ou o veículo elétrico, figura mais adequada aos dias de hoje – da economia criativa. A lista de tarefas a executar inclui a melhoria da oferta de educação formal; o estímulo à criação de ambientes de inovação; a facilitação do acesso a financiamento para empresas desses novos segmentos e uma série de outras melhorias no ambiente de mercado e concorrência.

Em paralelo, há que se mudar a forma tradicional de pensar de grande parte dos brasileiros e alguns tabus erguidos pela educação tradicional. A criatividade não é exclusiva de gênios. Pelo contrário: ela é uma característica inata do homo sapiens sapiens. Infelizmente, porém, nosso modelo educacional, que pouco mudou desde o século 18, "castra" a propenssão natural das crianças de reinventar o mundo, gerando adultos resistentes, com medo de serem criativos. Derrubar esses obstáculos é tarefa árdua, que pode ser feita com auxílio de gatilhos biológicos, emocionais e de conectividade, com trabalho colaborativo que gere resultados criativos e que levam à Inovação.

No contexto atual, é essencial atrair mais e mais pessoas para o fúnil da inovação e da criatividade, mostrando que a coragem de pensar o novo pode transformar vidas e cidades e o País. Só com criatividade e inovação vamos encontrar meios de tornar esse talento e essa maneira de ver e estar no mundo disponíveis para cada vez mais pessoas. O futuro exige isso de nós.

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